segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dicas De Leitura

Como não estou com paciência pra escrever algum texto, postarei umas dicas de leituras que escrevi pra um jornaleco da faculdade em que eu estudava.


Vidas Secas - Graciliano Ramos 



É inegável que o romance lançado em 1938 “Vidas Secas” de Graciliano Ramos se tornou um marco da literatura brasileira, e não é para menos, esse contundente retrato da vida sertaneja consegue sensibilizar e encantar milhares de leitores desde sua criação. Através de capítulos quase independentes somos transportados não somente ao semi-árido brasileiro, mas também ao mundo introspectivo dos habitantes dessa região do país. Tudo nesse livro é essencial, mas o que mais encanta a todos, sem dúvida, é a presença marcante da cachorra Baleia e a visão que temos do mundo através dela.
 Essa grande obra deveria ser comum a todos, pois pode ser encarada como uma síntese da alma nordestina e de certa forma um retrato de um dos inúmeros Brasis.


A Metamorfose - Franz Kafka


Escrito em 1912, “A metamorfose” de Franz Kafka não é somente a inusitada estória de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante que acorda “transformado num gigantesco inseto”, mas também uma sombria síntese da opressão e alienação do homem moderno. Com uma linguagem despojada e objetiva o autor nos conduz, através dessa grotesca metáfora da condição humana, à reflexão sobre o absurdo da existência. Esse clássico da literatura universal é leitura imprescindível para todo aquele que um dia já se sentiu tal qual uma asquerosa barata.
Confira outras obras do autor como “O processo”, “Na colônia Penal” e “Carta ao Pai”. Impossível continuar o mesmo depois de conhecer o universo kafkiano, se é que não o vivemos todos os dias.



On The Road - Jack Kerouac


Reza a lenda que Robert Allen Zimmermann depois de ler “On The Road” decidiu botar o pé na estrada, o resultado: renasceu como Bob Dylan e tornou-se o ícone de toda uma geração.
A obra do americano Jack Kerouac, lançada em 1957, é responsável por uma das maiores revoluções culturais da segunda metade do século XX e desnudou o que fora a Geração Beat, um grupo de escritores boêmios, conhecidos como beatniks, que celebravam a não-conformidade e buscavam um entendimento mais profundo da vida, e com isso influenciaram muitas outras subculturas, como os Hippies e os Punks.
Com uma escrita fluída que, segundo o autor, tentava imitar a sonoridade do Jazz e Bebop, Kerouac escancarou o outro lado do sonho americano através da estória de amizade de Sal Paradise e Dean Moriarty, dois mochileiros que atravessavam os Estados Unidos de costa a costa, numa viagem de auto conhecimento.
Um livro essencial para entender a contra cultura que de certa forma criou os loucos anos 60 e reverbera até hoje.
 





O Livro de Uma Geração: O Encontro Marcado


        
           Como primeiro post desse blog inexpressível quero deixar o meu testenho (Quanta pretensão!) sobre uma obra que tive o prazer de pegar emprestado e nunca mais devolver (Não me julgues, ó Hipotético Leitor!): O Encontro Marcado do escritor mineiro Fernando Sabino, que não está mais entre nós desde 2004.
           Não se enganem pelo título um tanto quanto comum, aquele que tiver ânimo pra percorrer as páginas da obra em questão conhecerá um dos romances mais cativantes de nossa literatura (Minha opinião, é claro.) e com certeza não será o mesmo depois ler o último parágrafo. Aliás, O Encontro Marcado se encaixa na categoria daqueles livros que não acabam no ponto final, mas sim continuam assombrando(No bom sentido da palavra, apesar de o termo não ter um "bom sentido" muito claro a todos) toda a vida e os pensamento dos leitor.
          De forte caráter autobiográfico, O Encontro Marcado pode ser visto como um "building roman, ou romance de formação, pois narra a trajetória de um inquieto ser com pretensões a literato chamado Eduardo Marciano desde a tenra idade até uns trinta anos numa procura por si mesmo e pela verdadeira razão de sua vida (Tá! Eu sei. Isso não revela muito da obra).
          Mais eficiente que escrever um resumo sobre a obra é transcrever um trecho do romance:


"[...]— Precisamos começar a viver, Eduardo.
— E não estamos vivendo? — mas ele se sentia fora de seu
mundo, esquecido de tudo, pacificado, feliz. O regresso, o apartamento
alugado, a mobília comprada, a vida em comum afinal feita realidade.
Tudo acontecia numa seqüência rápida, sem trégua, mal ele tinha
tempo de acomodar-se a uma transformação em sua vida, e logo vinha
outra, ainda maior. Que viria agora? — ele se interrogava, sem saber o
que fazer de si, pela primeira vez sozinho, quando ela enfim, alegando
cansaço, recolhera-se mais cedo. Sentia vagamente que se tornara
instrumento de desígnios outros, poderosos, desconhecidos — já não
era dono de si mesmo. Você não soube escolher — lhe dissera Toledo:
foi escolhido. Escolhido por quem? Para quê? Desígnios de Deus?
Lembrava-se do diretor do ginásio, séculos atrás: você acredita em
Deus? já nem sabia em que acreditava, não tinha tempo para pensar.
Você vive muito depressa — o pai tinha razão, era isso, depressa
demais. Essa ganância de viver. Gostaria de ser um homem sereno,
comedido, um escritor como Machado de Assis. Era preciso ir devagar
— saber envelhecer. O fruto que apanhava ainda verde, deixava
apodrecer na mão. Casado. A vida o afastava de sua origem, de seus
amigos. Já nem sempre estaria presente na lembrança deles, o tempo o
empurrava com força demais e isso era terrível. Mal podia sentir o gosto
das novas experiências, já não eram novas, ficavam logo para trás, o
passado, ele que não tinha presente, não tinha nada, não fizera nada —
por que não podia parar um pouco, descansar, não dar mais um passo?
Queria adquirir seus hábitos também, certa maneira de ser, ele que era
moço. Sozinho. Muito precoce, aprendeu a ler sozinho, fazia o que
queria, bastava arranhar o rosto. Antonieta sua mulher, dia e noite,
enfim conquistada: nada mais a fazer? Sozinho, o tempo passando,
ignorava tudo que ficara para trás: Mauro fizera um poema e ele não
sabia, Hugo lhe mandara um telegrama, apenas um telegrama lhe
mandara Hugo. Assim, eles iam mudando: nada de intimidades. Uma
suave cortesia. Uma distinta amizade. Amabilidades de parte a parte. E
falsidade, hipocrisia, conveniência. Pois não, também acho, com prazer.
Com quem puxar angústia agora? Nascemos para morrer — nada pior
do que não ter nascido. A vida tem dessas contradições, dizia o pai.
Onde as verdades eternas? O tempo levava tudo, ele não tinha onde se
ancorar. Oh, o Toledo era um tratado de psicologia. Tudo isso é natural,
diria ele, natural, viver é assim mesmo. O tempo acontece, o que tinha
de ser já foi, agora a nostalgia de já ter sido em experiência, etcetera,
etcetera. Conheceria novas pessoas, pensaria outras coisas, ouviria em
silêncio prudente e compassivo opiniões alheias que um dia já foram
suas. E está certo! Não se pode fazer das dúvidas de outrora o pão
nosso de cada dia: não posso responsabilizar ninguém pelo destino a
que me dei. Sozinho: sozinho no mundo com uma mulher. O que
significa isso? Significa que terei de amá-la, zelar por ela, sustentá-la,
cumprir os chamados deveres de estado. Pois então o que é que estou
fazendo aqui, sozinho? Não sou um homem? um marido, não sou? Há
uma fresta em minha alma por onde a substância do que sou está
sempre se escapando mas não vejo onde nem por quê. Depressa, não
há tempo a perder. Também tenho o meu preço mas ninguém
conseguirá me comprar, todo o dinheiro do mundo não basta, hei de
escapar como água entre os dedos da Coisa que me aprisionar entre os
dedos — hei de fluir como um rio, dia e noite, nem que tenha de dormir
de pé porque esta é a cama estreita que conduz ao reino dos céus. Não
adianta pensar, a mão de Deus é pesada mas me protege a cabeça, tudo
que faço nasce feito, sozinho, não adianta chorar, meu Deus, nem
tenho motivos para isso, muito pelo contrário, é preciso reagir, a
literatura não adianta, e os livros na estante e o cinzeiro cheio de cinza
e a luz da cozinha acesa, poderia fazer um café, Antonieta dormindo e o
botão do pijama, meu Deus, livrai-me do pijama, quero ser reto, quero
ser puro, quero servir, pois vai trabalhar, moço, deixa de vaidade, tu és
muito pretensioso, uma missão a cumprir, ora vejam, perdulário que tu
és, a vida é breve, não incomoda os que trabalham, os trabalhos do
homem são penosos, estou casado, estou cansado, estou abatido, em
verdade estou destroçado, andei depressa demais, agora chega, basta,
pára, pronto! acabou. Assim. Fique quieto. Que nenhum som te
denuncie. Calma. Não olhe. Não mexa. Não queira. Não estou dormindo,
estou vigilante, hay que vigilar las tinieblas, capisca? ai, Minas Gerais,
já ter saído de lá, tuas sombras, teus noturnos, teus bêbados pelas
ruas, Eduardo Marciano, minha mágoa, minha pena, minha pluma,
merecias morrer afogado, o barco te leva para longe, a praia está
perdida, mas voltarás nem que tenhas de andar sobre as águas...
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre
começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que
seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho
novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do
sono uma ponte, da procura um encontro.[...]"




E para aqueles que se interessam pelo livro (Só pra constar, era essa minha intenção). Segue um link do livro em pdf (Apesar de eu achar um grande pé no saco essa história de ler no computador um obra inteira, e também aconselhar a agarrar com unhas e dentes esse livro quando o econtrar em algum sebo [melhor assim] ou livraria.):
http://www.4shared.com/file/35763625/4b6c2a78/Fernando_Sabino_-_O_Encontro_Marcado__Edio_Comemorativa_de_50_anos_.html?s=1